Peço Desculpa, Coração

Da última vez eu prometi que seria a última vez
Mas de novo faltou me a sensatez, lucidez
Agora tento, em vão, colar todos os pedaços em que te desfizeste
Um lamento, uma consolação, lembras-me de todos avisos que me deste

Tentei proteger-te mas não consegui
Todos sinais fingi que não vi
Cegada pelo amor que pensei ser para mim
Não é suposto contos de fadas acabarem assim

Entreguei-te em mãos que se descuidaram
Pedaços de ti entre seus dedos escorregaram
Estilhaçado no chão, já te é familiar
Desta vez não sei se te consigo arranjar

Peço desculpas, coração, de ti não sei cuidar
À mesma pessoa teimo te entregar
E no fim, ninguém te sabe amar

Girassóis

Nunca quis flores
Não pedi presentes
Do arco íris não quis todas cores
Tuas palavras e acções incongruentes

Será que sou ingrata?
Sou demasiado abstrata?
A reclamar de ouro só porque me deste prata?
Enquanto dizes me regar de amor minha alma desidrata

Uma maneira peculiar de amar e ser amada
De querer se sentir importante e desejada
De saber ser a única opção considerada
De ter orgulho ao ser mimada

Toques, carinho sem preço
Abraços, beijinhos enquanto adormeço
Atenção e consideração como no começo
Coisas que penso que mereço

Não sei ler os poemas que me escreves
Para ti longos encontros para mim são breves
Sigo te para onde quer que nos leves
Se seguíssemos sozinhos estaríamos mais leves

É solitário e doloroso este lugar
Dói ainda mais por ser tão familiar
Até todos girassóis me podes dar
Tua ausência não vão compensar

Tu foste tudo que eu pedi
Tua atenção a única coisa que exigi
Em meus textos essência de ti
E deste conto de fadas que nunca vivi

Como Poesia

Mereço um amor como poesia
Que para todas dores é anestesia
Sem forçar, brisa da maresia
Naturalmente me encontrar, tudo que eu queria

Quero um amor que não deixe dúvidas, insegurança
Depois das minhas tempestades, que seja bonança
Que segure em mim e não queira largar
Que de todas opções, escolha me amar

Quero um amor que eu possa amar sem medo
Que não tenha que me perguntar se é muito cedo
Que seja privado, não segredo
Um amor que queira pôr um anel no meu dedo

Um amor que eu possa amar como eu sei, intensamente
Ou oito ou oitenta, ininterruptamente
Um amor com quem não preciso fingir
Que juntos podemos chorar e rir

Mereço um amor como os que eu escrevo
Mas a sonhar assim já nem me atrevo
Porque quando este poema terminar
Não existirá ninguém para assim amar

Não Vou Perder

Não há espaço no vazio em mim
O eco do silêncio sinaliza a certeza do fim
O abismo me olha de volta e sorri
Uma piada que só eu não entendi

Do nada de novo escrevo sobre ti
O meu cérebro grita e meu coração só ri
Espera, eu disse coração?
Minha cabeça a repetir “não não não”
Foi tudo em vão?
Todas as horas com estes muros em construção?
Ninguém viu este ponto fraco na fundação?

Merda, mudaste minha poesia
Criaste tempestade na minha calmaria
Desorganizaste minhas estrofes, minha rima perfeita
Minha criatividade já não me respeita

Acabou, desta vez de verdade
Não haverá mais a desculpa da saudade
Não entrarei nesta batalha que só eu posso perder
Não apostarei nesta guerra que é impossível vencer

Chove

Está frio mas estás longe de mim,
Já faz um tempo que estás assim
Distante, o vazio entre nós aumenta,
Meu amor sozinho esta relação não sustenta

Não nos conhecemos mais
Penso que vais ficar mas sais
O eco da tua ausência dói
Gritos magoam mas silêncio destrói

Até quando vamos insistir nisto?
Ou sofro contigo ou desisto
És colega do exército e inimigo
Queres mesmo estar comigo?

Lá fora chove e aqui dentro troveja
Meu amor é forte mas agora fraqueja
Talvez nada dure para sempre e isso temos que aprender
Tenho que te deixar ir para não me perder

Pronto, morri

Pronto, morri
A dor finalmente acabou e posso jurar que naqueles últimos momentos sorri
Pronto, morri
O meu peito já não está apertado, minha mente já não luta contra todos meus pensamentos positivos
Pronto, morri

Já não vou atender quando ligares, responder quando mandares mensagens
Já não vou postar fotos e vídeos a rir que tu vais ignorar
Pronto, morri
Vou descansar de mendigar um amor que nunca achei merecer
Já não vou rezar para que te lembres da minha existência, já não vou rezar pela tua atenção, validação
Pronto, morri

Não me magoarão mais palavras, acções
Agora todos só me elogiam e postam as minhas fotos que tinham guardadas e as flores que nunca me deram
Pronto, morri
Já não me vou sentir obstáculo para a felicidade dos outros, motivo de ansiedade, incómodo
Vou deixar de tentar ser perfeita porque finalmente morri

És Tu

Cada vez que meus olhos fecho,
Cada vez que penso no desfecho;
Cada respiração, racionalização;
Cada batimento do meu coração,
És tu.

Cada sentimento descontrolado,
Cada pensamento indesejado;
Cada lágrima de saudade,
Cada momento nesta realidade,
És tu.

Cada segundo, minuto, hora,
Cada desespero e vontade de ir embora;
Cada lembrança, cada momento;
Cada instante que me tormento,
És tu.

Cada toque, beijo, abraço,
Cada vez que lembro desse fracasso;
Cada sorriso, sonho, descoberta;
Cada vez que me sinto incerta,
És tu.

Sempre foste e sempre serás tu.

Vazio

Vejo minhas mãos vazias,
Lembro me de tudo que querias;
Querias dinheiro, querias sucesso,
Ter alguém ao teu lado atrapalhava teu processo

Eu não queria ser egoísta e manter-te preso,
Querias sair desta relação com o ego ileso;
Então foste embora antes que eu pudesse abrir a porta,
Porque na tua cabeça nada para além de ti importa

Agora estou aqui a olhar para o lugar que ocupavas,
A ouvir o silêncio preencher os espaços de tuas palavras;
O frio que deixaste estranhamente me conforta,
Sentir alguma coisa é melhor do que estar morta

Será que realizaste os planos que tinhas?
Se eu te chamasse hoje, vinhas?
Será que já percebeste que não era eu teu obstáculo?
Posso começar a bater palmas ou continuas o espetáculo?

Afoguei-me

Tentei afogar as mágoas para te esquecer
Disse a mim mesma para me resolver
Que no fundo do copo encontraria distração
Que para o meu problema encontraria solução

O que não sabia é que meu problema tinha nome e endereço
Que sua atenção aparentemente não mereço
E não consigo arrancar essa dor no meu peito
E o álcool é um aliado suspeito

Como uma tatuagem na pele do coração
Não conseguir te apagar cria frustração
Em vez de afogar as mágoas que me causaste
Afoguei me na certeza que me conquistaste

Não importa o quanto eu tente explicar nunca será suficiente
O que sinto nunca terás em mente
E por enquanto estou dormente
Já não sinto nada por mais que tente

Perdemos

Estamos na mesma cama mas parecemos estar em mundos diferentes
Felizes no dia a dia mas na relação descontentes
Já não fazemos amor como antes
Antes dormíamos enroscados e hoje distantes

Quando isso aconteceu não sei
Tudo de mim dei
Devia ter te segurado com mais força
Não é justo eu ter perdido uma guerra que não sabia estar a lutar
Não é justo ter escorregado de minhas mãos algo que pensei que comigo fosse sempre levar

Agora, a olhar para tuas costas noto o quanto mudou
Já não somos “nós”, tu és e eu sou.