Vidros Embaciados

Estamos sentadas uma ao lado da outra no carro paradas em frente à minha casa sem dizer nada. Eu, à espera que ela destrancasse a porta e ela à espera que eu dissesse alguma coisa. Zanguei-me por algum motivo de que honestamente já nem me lembro e recusava-me a sequer olhar para ela.
Lá fora estava a chover torrencialmente e nós estávamos as duas molhadas por termos saído da porta da festa até ao estacionamento a pé.
“Eu já te pedi desculpas, amor.” Ela disse a olhar me nos olhos e tocar-me a mão. “O que queres que eu faça?”
Eu estava bêbada demais para estar a ter aquela conversa e definitivamente bêbada demais para entrar em casa. Olhei para a cara dela que estava iluminada apenas pela luz do celular que estava no colo a tocar com o nome da melhor amiga a piscar no ecrã. Ela atendeu, disse “Estou com a T.” e desligou. Agora só a luz de um poste a alguns metros e tapado pelos ramos da árvore nos iluminava. Só conseguia ver os contornos daqueles lábios que me enlouquecem, daquela estrutura óssea definida e aqueles ombros largos virados para mim… e naquele momento percebi que ela era irresistível.
“Está bem.” Eu disse, lamentando a minha fraqueza, a baixar as costas do assento dela e sentar-me no seu colo. Ela olhou para mim surpresa nos poucos segundos antes de eu a beijar e afastar o assento para trás.
Senti suas mãos geladas a apertarem meu rabo, subirem para baixo da minha blusa e encostarem na minha pele quente, um arrepio passou por mim.
Tirei sua camisa molhada, atirei no banco de trás e beijei seu pescoço… senti-lhe a soltar um suspiro e afastar-me para tirar a minha blusa. Com ela entre minhas pernas, beijei-a enquanto esfregava-me nela com ajuda de suas mãos que me empurravam de frente para trás.
Mordi o top dela antes de o tirar, prendi suas mãos em cima da sua cabeça e continuei a beijar, lamber, morder e apertar seu pescoço e seios, depois mergulhei de volta na sua boca. Sentei-me, olhei em volta para ver se não vinha ninguém e, como pensei, com aquela chuva e àquela hora a rua estava deserta.
Ela tirou-me o sutiã, com uma mão puxou-me mais para perto e senti sua boca, lábios, língua e dentes em meus seios e com a outra mão ela abria o botão e o zíper das minhas calças. Meteu a mão entre as calças e a minha calcinha e acariciou a minha menina… soltei um suspiro e ela afastou-me para poder olhar nos meus olhos, sorrir, afastar minha calcinha, meter um dedo e ver meus olhos revirarem-se, minha respiração ficar ofegante e minhas costas arquearem-se.
Com um dos braços apoiado nela e outro no tejadilho do carro, mexia-me em sincronia com sua mão e seus dedos que abraçavam minha menina e meu clítoris até eu arranhar sua pele e me vir. Levantei-me, arranquei-lhe os calções, virei-a de costas e dei-lhe uma palmada no rabo antes de ficar de quatro atrás dela. Beijei seu pescoço, ombro e costas enquanto uma mão apertava-a contra mim e outra continuava a dar palmadas. Pus minha perna no meio das suas e encostei para poder ouvir sua respiração acelerar e sua menina humedecer com o contacto.
Desci até seu rabo e mordi uma das nádegas enquanto apertava a outra com as mãos. Ela soltou um suspiro e um grito leve. “Shh, não queres que os guardas nos oiçam, né?” Ela virou-se para mim frustrada e eu passei a mão pela sua menina enquanto beijava o interior de suas coxas e beijar seus lábios. Senti-a a ficar tensa e comecei a lamber à volta de seu clítoris até sentir sua humidade em mim. Meti primeiro minha língua e quando ela soltou um “Shit.” Pus um dedo devagar, senti-a a relaxar depois de alguns segundos e comecei a movimentar o dedo enquanto subia para tapar sua boca e aumentar a velocidade. Ela mordeu-me e veio-se afastando-se de mim.
Deitei-me em cima dela e dei-lhe uma palmada e um beijo. “Pelo menos já não estás zangada.” Disse ela e rimos as duas ali dentro do carro que já estava com o ar extremamente pesado e os vidros embaciados por causa do gelo que estava lá fora e a chama que estava lá dentro.

Beijos, Mell

​Mandei uma mensagem parada em frente ao elevador, não me lembrava do andar e honestamente nem da função de procura do meu celular. Deu-me uma branca e senti-me gelada da cabeça aos pés, como se a minha alma tivesse abandonado o meu corpo e me deixado ali, no corredor gelado sozinha.
Assustei-me quando o celular vibrou em minha mão e vi no ecrã:
DC: 6, já estou a tua espera.
Cliquei no botão, as portas abriram se e fiquei a olhar para o meu reflexo no espelho do elevador, estava de leggings, t-shirt e sapatilhas pretas, com o cabelo espalhado por causa do vento lá fora e o batom vermelho escuro, uma versão gótica e cacheada da Marilyn Monroe. Entrei e pressionei no 6 com o dedo. As portas fecharam-se e ele movimentou-se, um nó no meu estômago se formou e comecei a pensar demais em tudo, como sempre.
O elevador parou, as portas abriram-se e quando olhei ela estava lá, encostada ao murinho da varanda comum que dava para a estrada. Olhou para mim e vi aquele sorriso de lado e as covinhas a formarem-se em seu rosto, sorri de volta e todo gelo dentro de mim derreteu, o lugar onde a alma deixou vazio estava uma atracção que era mais que só desejo mas menos que amor. O que era aquilo?
Não conseguia parar de olhar pra ela, parecia ter tudo sobre controle, como se conhecesse cada ângulo de si e soubesse posicioná-los perfeitamente para se tornar hipnotizante, as portas do elevador iam fechar-se na minha cara e isso fez-me voltar ao mundo real e dar um passo à frente.
Ela estava de calções, camisola e chinelos e quando notou que eu não me mexia começou a vir em minha direcção. Deu-me um abraço e senti o cheiro do perfume dela, aquele cheiro característico que vinha a minha mente sempre que nela pensava.
Entramos em casa e guiou-me até a última porta ao fundo do corredor, tinha as iniciais dela coladas e ri-me a dizer que era para se lembrar de onde dormia quando voltada intoxicada das festas. Quando entrei estava fresco lá dentro, a cama desfeita, o computador ligado em cima dela e um bolo na secretária.
“Não vamos ao cinema?” Eu perguntei a olhar para ela que tinha as costas encostadas na porta e os braços cruzados em frente ao peito. Assim de perto conseguia ver os seus piercings coloridos, o contorno da sua estrutura óssea, a omoplata saliente e a definição dos músculos nos braços.
“Eu disse que íamos ver um filme, não ir ao cinema.” Ela sorriu ao dizer isso, estava a testar-me, eu sorri de volta.
“Pelo menos poupo dinheiro” eu respondi a sentar-me na cama e a tirar as sapatilhas. Oiço o som de um zíper a abrir-se e quando olhei para cima ela tirava a camisola e ficava com um top cinzento, voltei a baixar o olhar e conseguia ouvi-la a cortar o bolo. Quando acabei ela ofereceu-me um pedaço (aquilo não era uma fatia) e sentou-se ao meu lado enquanto eu comia, virei-me para ela e aproximou-se.
Os meus nervos estavam a flor da pele, a antecipação deste momento me enlouqueceu durante um tempão e estava finalmente a acontecer, beija-mo-nos.
Primeiro suavemente e depois mais profundamente, senti o sabor a chocolate do bolo e da cor da sua pele, senti suas mãos geladas desesperadas por tocar em mim, a arrepiar-me cada vez que passava por baixo da minha roupa onde ainda estava quente, explorei o máximo possível com a barreira que nossas roupas apresentavam naquele momento. Até que não aguentamos mais, já suávamos mesmo com o quarto frio, suávamos de tesão, de desejo, de frustração… arrancamos nossas roupas mais rápido que alguma vez eu pudesse imaginar, como se nossas vidas dependessem disso, como se num deserto só uma a outra pudéssemos beber, e foi aí que a conheci completamente, deitadas em sua cama a descobrir cada curva, cada sinal, cada acção e sua consequência em nossos corpos, cada ponto fraco, cada arrepio, cada milímetro cuidadosamente tocado, beijado, mordido, acariciado, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, como se fôssemos o mundo, nós duas.
As sensações que tive quando ela estava em mim, quando me explorava com sua língua e seus dedos, puro êxtase, conexão mental e física, quase tão satisfatório como ouvir seus gemidos e sentir ela a puxar me o cabelo como que a guiar-me dentro do universo que é ela.
No fundo às vezes ouvia de raspão o som do computador que já estava no chão e ignorava-o até que desaparecesse e se tornasse parte do cenário.
Estávamos deitadas uma ao lado da outra, nuas, caladas e cansadas. Ouvi o meu celular pela primeira vez desde que estava lá, quando o encontrei debaixo do monte de roupa no chão ele já estava a reclamar de carga.
50 chamadas não atendidas.
“Shit. Tenho que ir.” Disse a tentar montar o quebra-cabeça que era minha roupa naquele momento. Tinham passado 5 horas, pra quem vinha assistir um filme de 1 e meia.
Levantei-me e olhei para ela que ainda estava deitada nua a olhar para mim, reparei nas marcas de batom espalhadas pelo seu corpo e cara. Ela riu-se, levantou e beijou os meus lábios levemente antes de se começar a vestir.
Quando a porta do elevador abriu-se eu notei por que ela se riu, a minha cara estava toda suja de batom e o meu cabelo em um estado lastimável. Fiz o máximo de me arranjar antes que o botão que dizia “0” acendesse e as portas se abrissem.
Cheguei a casa e a primeira coisa que fiz quando liguei o celular foi mandar-lhe uma mensagem.
“Adorei o filme.
Beijos, Mel.”

Ela (Parte 3)

Estamos paradas de frente uma da outra,
Meu olhar o dela encontra;
Ela esboça um sorriso para me cumprimentar,
Eu a convido para entrar sem palavras usar.

Ela deita a carteira e o casaco no chão,
Eu fecho a porta só com uma mão;
Na minha direcção ela começa a andar,
As costas na porta me faz encostar.

Estamos tão próximas que consigo ouvir seu coração,
Mal me tocou e acelerou-se a pulsação;
O ar fica pesado demais pra respirar,
Encosto-a contra mim e a começo a beijar.

Ponho minhas mãos por baixo da sua blusa,
Tiro-a rapidamente e ela me olha confusa;
Tiro também a minha pra que se sinta confortável,
Ela nota meu olhar de desejo insaciável.

Deito-a no sofá e puxo sua saia,
Digo pra ela imaginar que está na praia;
Estamos ambas de roupa interior,
Agora controlar-me é ainda pior.

Encosto-me nela e beijo sua testa,
Vou deixar ela tomar conta da festa;
Não a quero assustar com tamanha agressividade,
Vou controlar a minha vontade.

Ela (Parte 2)

Estamos sozinhas nesta sala,
Consigo ouvir seu respirar;
O universo, eu e ela;
Deliro só de imaginar.

Sento ao seu lado,
Não a quero assustar;
Sinto meu sangue gelado,
Meu corpo pelo dela a chamar.

Toco de leve sua cara,
Dela me começo a aproximar;
Minha intenção clara,
Meus lábios ela começa a beijar.

Fecho os olhos e consigo a sentir,
Encosto seu corpo ao meu;
O toque não pode mentir,
Já estou quase no céu,
E mal nos começamos a divertir.

As minhas mãos começam a explorar,
Cada centímetro de sua pele;
“Espera, estas sensações me estão a assustar;
Tudo sobre ti me compele.”
Disse ela a se afastar;
“Não te preocupes, nós vamos devagar.”
Disse eu seu joelho a afagar.
Esta aventura em outro poema terá que acabar.

Ela (Parte 1)

Minha cara está enterrada em seu pescoço,
A ela estou a respirar;
Nossos corações estão em alvoroço,
Minhas mãos por seu corpo estão a passar.

Ponho-a contra a parede,
Minha nuca ela começa a agarrar;
Bebo-a como se tivesse sede,
Uma sede que só ela pode matar.

Puxo seu cabelo,
De frente ela agora me está a olhar;
Seu olhar inocente, tão belo,
Pelo meu agressivo se está a assustar.

Aproximo-me do seu ouvido,
“És linda” digo a sussurrar;
Depois afasto-me como se nada tivesse acontecido,
Um dia isto vamos continuar.